Inúmeros estudos salientam
as consequências a que a dependência da Internet conduz, nomeadamente a nível psicopatológico,
cognitivo, relacional, físico e profissional e/ou académico.
Relativamente à área
do funcionamento psicológico, vários estudos procuram estabelecer uma relação entre
o uso patológico da Internet e sintomas depressivos, de ansiedade e de solidão.
O estudo de Kraut
et al. (cit. por Engelberg & Sjöberg, 2004) revela a existência de correlações entre as horas passadas online e sentimentos de depressão e solidão, tendo concluído que quanto mais horas os indivíduos estão na Internet,
menos tempo passam com pessoas “reais”, logo pior é o seu bem-estar psicológico.
Chou, Condron &
Belland (2005) reportam que determinados estudos identificaram sintomas crescentes de depressão em utilizadores abusivos da
Internet (Young & Rogers, 1998) e que as pessoas dependentes deste meio reportam experienciar maior solidão do que as
restantes pessoas (Morahan-Martin & Schumacker, 2000).
A associação verificada
entre o uso patológico da Internet e outras patologias, como a depressão, solidão e ansiedade social, sugere que o abuso da
Internet pode ser um sintoma de outras perturbações psicológicas em determinados indivíduos (Chak & Leung, 2004). A este
respeito, de acordo com Davis (cit. por Engelberg & Sjöberg, 2004), não é a Internet que causa depressão, mas são, em
vez disso, os indivíduos com depressão que recorrem à Internet.
Segundo Baptista (s/d),
perturbações do comportamento que envolvem uma maior dificuldade no controlo de impulsos podem sofrer um reforço através da
utilização da Internet, devido à possibilidade de satisfação imediata de impulsos (p. ex., a realização de compras por via
electrónica por parte de compradores compulsivos).
No que diz respeito
ao carácter anónimo das relações estabelecidas na Internet, Baptista salienta a questão da possibilidade que é oferecida ao
indivíduo de experimentar novas formas de estar e de ser, através da adopção de uma nova identidade, sem o custo social que
advém de encarnar essa mesma identidade. Sendo assim, a consequência psicológica resultante é a incapacidade de o indivíduo
de se inserir na realidade, ganhando um sentimento de estranheza face ao mundo, que, por sua vez, poderá conduzir a uma diminuição
do controlo subjectivo.
Adicionalmente, em
termos cognitivos, Baptista considera que a Internet poderá ter influência nas formas
de pensamento e organização pessoal. A ideia de construção de informação tendo por base um hipertexto, com as ligações mais
diversas a outro tipo de informações, introduz uma forma de referenciação a que não estamos habituados e, como tal, poderá
trazer consequências na forma como organizamos a informação.
São diversos os estudos
que apontam para a deterioração das relações sociais como uma das principais consequências
do uso excessivo da Internet. No entanto, não existe ainda uma opinião consensual a este nível.
O estudo de Nie e
Erbring (cit. por Engelberg & Sjöberg, 2004) revela que o aumento do uso da Internet diminui a interacção com pessoas
reais e, por isso, quanto mais os utilizadores fazem uso da Internet, tanto maiores são as hipóteses de experimentarem deterioração
ao nível das suas relações sociais.
O estudo de Young
(1996) revelou que 53% dos indivíduos dependentes da Internet referiam sérios problemas relacionais. Uma possível explicação
reside no facto dos indivíduos passarem gradualmente menos tempo com as pessoas, para passarem mais tempo em frente ao computador.
Os casamentos parecem ser os mais afectados, visto que o uso da Internet interfere com responsabilidades e deveres em casa:
as tarefas quotidianas são ignoradas, assim como outras actividades (p. ex., tomar conta das crianças). Além do mais, advogados
matrimoniais referem terem verificado um aumento do divórcio devido ao estabelecimento de casos cibernéticos. Os indivíduos
dependentes da Internet tentam esconder a sua dependência, mentindo relativamente ao tempo que passam na Internet ou escondendo
as facturas. Estes aspectos contribuem para criar desconfiança e, ao longo do tempo, lesam a qualidade dos relacionamentos
(Young, 1999).
Kraut e col. (1998;
cit. por Baptista, s/d) procuram explicar o motivo pela qual a Internet afecta adversamente o envolvimento social e o bem-estar
psicológico, baseando-se nos mecanismos da deslocação da actividade social e de laços fortes. No que concerne à actividade
social, existe um deslocamento do tempo anteriormente dedicado a actividades sociais para a utilização da Internet e, por
isso, surge isolamento social e paralelamente um declínio no bem-estar psicológico. No entanto, estes autores apontam para
o facto da Internet ser utilizada exactamente para fins de convivência social, o que enfraqueceria esta explicação. No que
diz respeito à explicação em termos de laços sociais, ocorre uma troca de laços fortes (amigos, família, etc.) por laços mais
fracos estabelecidos na Internet (através de newsgroups, salas de conversação,
etc.). Porém, como estes laços correspondem somente a uma comunhão de interesses ou preferências, não preenchem verdadeiramente
os indivíduos do ponto de vista emocional, quando comparados com os laços fortes.
Apesar dos riscos físicos envolvidos na dependência da Internet serem menores do que nas dependências de substâncias, continuam
a ser notáveis. Geralmente, indivíduos dependentes utilizam a Internet aproximadamente entre 40 a
80 horas por semana, com sessões individuais com duração até 20 horas (Young, 1999). As consequências físicas são inúmeras
(Young, 1999; Engelberg & Sjöberg, 2004): alteração dos padrões de sono, devido a log-ins
até altas horas; fadiga excessiva, fazendo frequentemente com que o funcionamento académico e ocupacional fiquem afectados;
enfraquecimento do sistema imunitário, causando uma maior vulnerabilidade a doenças; falta de exercício adequado, devido ao
carácter sedentário do uso da Internet, podendo conduzir a problemas físicos mais graves como um risco aumentado da síndrome
do túnel do carpo e ainda problemas de costas e olhos; e deterioração dos hábitos alimentares, nomeadamente saltar refeições
e aumento do consumo de fast-food.
O estudo realizado
por Brenner (1997; cit. por Chou, Condron & Belland, 2005) revelou que o uso excessivo da Internet possui implicações
negativas a nível profissional e académico, devido à fadiga e à má gestão de tempo.
Um estudo realizado
por Scherer (1997; cit. por Chou, Condron & Belland, 2005) revelou que 13% dos participantes consideram que o uso da Internet
interferiu com o seu trabalho académico, desempenho profissional e vida social.
A investigação de
Young (1998) mostra que, para a maioria dos estudantes entrevistados, o uso excessivo da Internet contribui para problemas
académicos, incluindo más notas, reprovação e expulsão das universidades.
Nos estudos de Chou
e Hsiao e de Lin e Tsai (2000; 1999; cit. por Chou, Condron & Belland, 2005), indivíduos dependentes da Internet reportam
mais consequências negativas nos seus estudos e rotina do que os não dependentes. No entanto, não havia diferença na forma
como percepcionavam o impacto da Internet nos seus relacionamentos.